CULTURA E LAZER
6/11/2024 20:59:18
“Um tempo chamado Yayá” tem sessões extras em novembro
Por: da Redação
Sucesso da temporada prorroga até 25/11, às segundas e terças-feiras, a montagem com sessões gratuitas. A obra retrata Dona Yayá, reclusa em um casarão paulistano, explorando temas de saúde mental, gênero e memória cultural.
Sob a direção e dramaturgia de Patrícia Teixeira, com colaboração das atrizes da Cia. Coexistir de Teatro, “Um Tempo Chamado Yayá” retrata a trajetória de Sebastiana de Mello Freire (1887-1961), conhecida como Dona Yayá. Herdeira de uma grande fortuna, Dona Yayá passou grande parte da vida confinada devido a condições psiquiátricas. No elenco, Alana Carvalho, Gabriela Pietro, Gislaine Mendes, Janaína dos Reis, Lia Xavier, Sandra Crobelatti, Silvia Fuller e Wash Peinado, interpretam diferentes fases da vida da protagonista, incluindo personagens como sua madrinha, cuidadoras, enfermeiro e professor.
O sucesso do espetáculo resultou na abertura de sessões extras de 4 a 25 de novembro, segundas e terças-feiras, sempre às 20h, na Casa de Dona Yayá, que é o casarão preservado no centro de São Paulo, onde Dona Yayá viveu confinada e que ainda guarda memórias sobre seu o passado e seus reflexos culturais.
A personagem nasceu em 21 de janeiro de 1887 em uma família paulista aristocrática marcada por tragédias. Órfã desde os 13 anos, foi tutelada pelo senador de São Paulo, Manuel Joaquim de Albuquerque Lins, e internada em um hospital psiquiátrico em 1919 devido a desequilíbrios emocionais. Posteriormente, recebeu tratamento em casa, onde viveu reclusa até sua morte em 1961.
A obra destaca a importância de discutir a doença mental considerando o contexto cultural e social, ressaltando o papel das mulheres na necessidade da transformação de estigmas e desigualdades.
De acordo com Patrícia Teixeira, “entrar em contato com a história de Dona Yayá, é debruçar-se de forma crítica, cuidadosa e atenta sobre o que foi feito de fato com essa mulher. Na narrativa, explorar o patrimônio cultural é resistir. Narrar é resistir. Por meio do teatro, mediamos e compartilhamos questões relacionadas à história e memória da institucionalização, considerando como as questões de gênero se articulam com a loucura e não esquecermos que o manicômio é a forma na qual o estado se relaciona com a sociedade”, refletiu a diretora.
Para Teixeira, a luta por uma sociedade sem manicômios é uma luta por direitos humanos. “Estarmos diante da história de Dona Yayá é também estarmos diante de tantas Yayás no processo histórico que nos leva a compreender as estruturas a partir do conceito de gênero.
Tempos nos quais a mulher sempre foi rechaçada, cobrada, punida, desqualificada, diminuída, discriminada e abusada. Abordar esse tema é, ao mesmo tempo, denunciá-los e nos fazer refletir sobre a necessidade de interseccionar a discussão da saúde mental com as questões de gênero, classe e raça”, afirmou.
A dramaturgia utiliza uma narrativa dividida em duas partes, alternando entre o presente e o passado de maneira não linear. No plano do presente, uma monitora guia o espectador por meio de uma exposição, apresentando a vida de Dona Yayá. Enquanto no segundo plano, mergulha no passado da protagonista, revisitando momentos significativos de sua infância, adolescência e idade adulta. “As memórias de Yayá podem se confundir com as nossas memórias e de tantas mulheres que tiveram seus sonhos, subjetividade, alma e corpo confinados e mortos", defendeu a diretora.
Montagem itinerante
A narrativa da vida de Yayá é contada em diferentes ambientes da casa e do solarium, criando um paralelo entre os cômodos e a fragmentação de sua psique, em uma tentativa de reunir as partes de sua vida que foram desmembradas, com a esperança de reconstruir sua subjetividade.
Cada cômodo representa uma parte de sua memória, dividida em temas específicos: infância marcada por perdas, adolescência caracterizada pela solidão, e a fase adulta, explorada em duas vertentes - a busca pela liberdade e autonomia, a experiência da doença, o confinamento, a partir de um olhar sensível sobre o resgate da identidade de Yayá.
As cenas são apresentadas simultaneamente em cada cômodo, interligadas por momentos distintos. “Ao mesmo tempo, uma monitora que está no tempo presente atua como narradora das memórias e da casa onde ficou confinada, propondo questionamentos sobre a história de Yayá e de tantas outras mulheres internadas em manicômios", contou a diretora.
Serviço
EVENTO: "Um Tempo chamado Yayá"
ONDE: Casa da Dona Yayá, rua Quatorze de Julho, 18 - Bela Vista, São Paulo.
QUANDO: 4, 5, 11, 12, 18 e 25 de novembro, às segundas e terças-feiras, às 20h.
QUANTO: entrada gratuita – reserva de ingressos pela Sympla.
DURAÇÃO: 1h e 30m.
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 anos.
Beto Garavello (Divulgação)
A obra retrata Dona Yayá, reclusa em um casarão paulistano, explorando temas de saúde mental, gênero e memória cultural
Beto Garavello (Divulgação)
A narrativa da vida de Yayá é contada em diferentes ambientes da casa e do solarium, criando um paralelo entre os cômodos e a fragmentação de sua psique, ...